quarta-feira, 6 de agosto de 2014

21° Capitulo - A Escolha

CELESTE SE TORNOU A GRANDE PROTAGONISTA da irmandade que se estabeleceu entre nós quatro. Foi dela a ideia de levar todas as nossas criadas e alguns espelhos grandes até o Salão das Mulheres para passarmos praticamente o dia inteiro fazendo maquiagem umas nas outras. Não fazia muito sentido, já que nunca faríamos um trabalho melhor que a equipe do palácio, mas foi divertido mesmo assim.
Kriss segurou as pontas do meu cabelo sobre a minha testa e perguntou:
— Você já pensou em usar franja?
— Algumas vezes — admiti, enquanto soprava a mecha que cobria o meu olho. — Mas como minha irmã geralmente se irrita com a dela, nunca levei a ideia adiante.
— Acho que você ia ficar fofa — Kriss disse, entusiasmada. — Já fiz esse corte na minha prima uma vez. Posso fazer em você se quiser.
— Isso — intrometeu-se Celeste. — Deixe ela ficar com uma tesoura perto do seu rosto, America. Ótima ideia.
Todas caímos na gargalhada. Cheguei até a escutar uma risada bem baixinha na outra ponta do salão. Procurei e vi a rainha apertar os lábios enquanto tentava se concentrar na leitura de um documento. Fiquei preocupada com a possibilidade de ela achar tudo aquilo um pouco inadequado, mas não me lembrava de tê-la visto tão feliz.
— Deveríamos tirar fotos! — Elise disse.
— Alguém tem uma câmera? — Celeste perguntou. — Sou profissional nesse assunto.
— Maxon tem! — Kriss gritou. — Venha aqui um minuto, por favor — ela disse a uma das criadas, agitando o braço para incentivá-la a chegar mais perto.
— Um momento — falei, pegando um pedaço de papel. — Muito bem, muito bem. “Alteza das Altezas, as damas da Elite requisitam, imediatamente, a menos sofisticada de suas câmeras para…”
Kriss riu ao passo que Celeste sacudiu a cabeça.
— Ah! Um estudo sobre diplomacia feminina — acrescentou Elise.
— Isso existe? — Kriss perguntou.
Celeste balançou os cabelos.
— Quem se importa?
Talvez vinte minutos mais tarde, Maxon bateu na porta e abriu uma fresta.
— Posso entrar?
Kriss correu até ele.
— Não. Só queremos a câmera. — Ela arrancou a máquina de sua mão e bateu a porta na cara dele.
Celeste caiu no chão de tanto rir.
— O que vocês estão fazendo aí? — ele quis saber, do lado de fora. Contudo, estávamos muito ocupadas nos contorcendo de tanto rir para responder.
Não faltaram poses atrás dos vasos de planta e beijos para o ar. E Celeste ensinou todas nós a “encontrar a luz certa”.
Enquanto Kriss e Elise se estiravam no sofá e Celeste se equilibrava no braço do móvel para fotografá-las, olhei para trás e vi um sorriso satisfeito no rosto da rainha. Achei uma injustiça que ela não pudesse fazer parte daquilo. Peguei uma das escovas e fui até ela.
— Olá, senhorita America — foi sua saudação.
— Posso escovar seus cabelos?
Notei que várias emoções passaram pelo seu rosto, mas ela apenas fez que sim com a cabeça e disse em voz baixa:
— Claro.
Fui para trás dela e segurei algumas mechas de seu cabelo absolutamente maravilhoso. Passei a escova de cima para baixo várias vezes enquanto observava as outras garotas.
— Fico feliz vê-las se dando tão bem — comentou.
— Eu também. Gosto delas. — Fiz uma pausa. — Peço desculpas pelo dia da Condenação. Sei que não devia ter feito aquilo. É que…
— Eu sei, querida. Você já tinha me explicado tudo antes da prova. É uma tarefa difícil. E vocês deram azar com os condenados.
Naquele momento, percebi como ela estava por fora. Ou talvez apenas tenha escolhido acreditar na boa-fé do marido a todo custo.
— Sei que você acha Clarkson duro, mas é um bom homem — a rainha começou, como se pudesse ler meus pensamentos. — Você não faz ideia de como seria estar no lugar dele. Todos nós lidamos com o estresse de uma maneira diferente. Ele perde a cabeça; eu procuro descansar o máximo possível; Maxon faz piada sobre o assunto.
— Ele faz mesmo — comentei, rindo.
— A questão é: como você lidaria com isso? — Ela virou para trás. — Penso que o entusiasmo com que defende o que acredita é uma de suas melhores qualidades. Se pudesse aprender a controlar um pouco sua impulsividade, seria uma princesa maravilhosa.
Fiz que sim com a cabeça e lamentei:
— Sinto muito por tê-la desapontado.
— Não, não, querida — ela disse, virando para a frente de novo. — Vejo potencial em você. Trabalhei em uma fábrica quando tinha a sua idade. Ficava sempre suja, com fome e, às vezes, com raiva, mas tinha uma queda permanente pelo príncipe de Illéa. Quando tive a oportunidade de conquistá-lo, aprendi a controlar meus sentimentos. Há muito a ser feito, mas talvez as coisas não aconteçam como você deseja. Você precisa aprender a aceitar isso, o.k.?
— Pode deixar, mãe — brinquei.
Ela olhou para trás, o rosto parecendo uma pedra.
— Quer dizer, pode deixar, Alteza.
Seus olhos começaram a lacrimejar, e ela precisou piscar algumas vezes antes de se virar para a frente.
— Se tudo isso acabar como imagino, acho que “mãe” estaria ótimo.
Foi a minha vez de conter as lágrimas. Não que ela fosse algum dia substituir minha mãe, mas era muito bom ser aceita, com todos os meus defeitos, pela mãe do homem que talvez viesse a ser meu marido.
Foi quando Celeste nos viu e se aproximou correndo.
— Tão lindas! Sorriam.
Me inclinei para a frente e passei os braços em torno do pescoço da rainha, que segurou minhas mãos. Depois nos revezamos para tirar fotos com ela e até conseguimos que fizesse uma careta para a câmera. As criadas bateram algumas das fotos para que aparecêssemos todas juntas. No fim, concluí que aquele tinha sido de longe meu dia mais feliz no palácio, embora não soubesse se continuaria lá. O Natal estava chegando.
Minhas criadas consertavam meu cabelo, após a última tentativa de Elise de fazer um coque alto, quando alguém bateu à porta.
Mary correu para ver quem era. Um guarda cujo nome eu não sabia entrou ali. Já o tinha visto várias vezes, quase sempre ao lado do rei.
Minhas criadas o cumprimentaram com uma reverência quando ele se aproximou, e eu estava levemente nervosa quando ele parou à minha frente.
— Senhorita America, o rei solicita sua presença imediatamente — foram suas frias palavras.
— Há algo de errado? — perguntei para ganhar tempo.
— O rei responderá suas perguntas.
Engoli em seco. Tudo de mais horrível me passou pela cabeça. Minha família corria perigo. O rei arranjara um jeito de me punir discretamente por todas as vezes que o contrariei. Ou descobrira que tínhamos saído do palácio. Ou talvez pior: alguém denunciara minha relação com Aspen e pagaríamos por isso.
Tentei espantar o medo. Não queria demonstrar ao rei Clarkson que era isso que eu estava sentindo.
— Vou com você, então.
Levantei e segui o guarda, não sem antes olhar uma última vez para as garotas. Assim que percebi como pareciam preocupadas, me arrependi.
Atravessamos o corredor e subimos a escadaria para o terceiro andar. Eu não sabia direito o que fazer com as mãos; ficava mexendo no cabelo, ou no vestido, ou esfregava uma na outra.
Quando estávamos mais ou menos na metade do corredor, vi Maxon, o que me tranquilizou. Ele estava parado em frente a uma sala, à minha espera. Não havia preocupação em seu rosto, mas ele conseguia esconder seus sentimentos melhor do que eu.
— O que aconteceu? — cochichei.
— Eu sei tanto quanto você.
O soldado assumiu seu posto do lado de fora, e Maxon me acompanhou para dentro. A ampla sala tinha uma parede coberta de prateleiras de livros. Havia também vários mapas sobre cavaletes. Pelo menos três eram de Illéa, marcados com alfinetes de diferentes cores. Sentado a uma mesa enorme, o rei segurava um pedaço de papel.
Assim que percebeu nossa presença, endireitou a postura.
— O que exatamente você fez com a princesa italiana? — o rei Clarkson exigiu saber, sem rodeios e com os olhos cravados em mim.
Gelei. O dinheiro. Tinha me esquecido daquilo. Confessar que conspirei a favor da venda de armas para gente que ele considerava inimiga era pior do que qualquer uma das hipóteses que eu levantara.
— Não sei se compreendo o que o senhor quer dizer — menti, olhando para Maxon, que permanecia calmo apesar de saber de tudo.
— Há décadas tentamos fazer uma aliança com os italianos e, de repente, a família real está bastante interessada em receber uma visita nossa. Entretanto… — O rei pegou a carta para procurar um trecho em especial. — Ah, aqui está: “Embora seja mais que uma honra receber a graça de vossa companhia e de vossa família, esperamos também que a senhorita America possa vir nos visitar. Após conhecer toda a Elite, somos incapazes de imaginar alguém capaz de seguir os passos da rainha tão bem como ela”.
O rei me encarou novamente.
— O que você fez?
Percebendo que tinha escapado de um problema enorme, relaxei um pouco.
— Tudo o que fiz foi tentar ser educada com a princesa e sua mãe durante sua visita. Não sabia que tinham gostado tanto de mim.
O rei Clarkson bufou.
— Você é subversiva. Tenho observado seus passos. Você está aqui por algum motivo que, tenho certeza, não é ele.
Maxon se virou para mim ao ouvir essas palavras. Gostaria de não ter notado o lampejo de dúvida em seus olhos. Sacudi a cabeça.
— Não é verdade! — falei.
— Então como uma garota sem dinheiro, sem contatos e sem poder é capaz de conseguir algo para este país que faz anos que tentamos alcançar? Como?
No fundo, eu sabia que existiam fatores que ele ignorava. Mas a própria Nicoletta tinha oferecido ajuda, tinha se colocado à disposição para fazer qualquer coisa em favor de uma causa que apoiava. Se a acusação do rei fosse contra algo que eu tivesse feito, seus gritos teriam me assustado. Naquela situação, porém, ele parecia mais uma criança.
Respondi calmamente:
— Foi o palácio que nos encarregou de entreter os convidados estrangeiros. Do contrário, eu jamais teria conhecido qualquer uma dessas mulheres. E foi ela quem escreveu, me convidando para ir. Não pedi por uma viagem à Itália. Talvez se o senhor tivesse sido mais acolhedor, teria conseguido uma aliança com a Itália anos atrás.
O rei levantou bruscamente.
— Cuidado com o que fala.
Maxon pôs o braço sobre meu ombro.
— Talvez seja melhor você sair, America.
Comecei me levantar, ansiosa para me afastar do rei. Só que não era isso que ele tinha em mente.
— Pare. Tem mais — o rei insistiu. — Isso muda as coisas. Não podemos recomeçar a Seleção e nos arriscar a desagradar os italianos. Eles possuem uma grande influência. Se nos aliarmos a eles, várias portas poderão se abrir para nós.
Maxon assentiu, nem um pouco incomodado. Ele já tinha tomado a decisão de nos manter no palácio, mas tínhamos que fingir que o rei estava no controle.
— Precisaremos simplesmente prolongar a Seleção — concluiu o monarca, fazendo meu coração bater mais forte. — Temos que dar um tempo aos italianos para que julguem as outras opções viáveis sem se ofender. Talvez devêssemos marcar uma viagem para lá em breve e dar a todas uma chance de mostrar suas qualidades.
Ele parecia muito satisfeito consigo mesmo, muito orgulhoso de sua solução. Comecei a imaginar até onde ele iria. Favoreceria Celeste, talvez. Ou conseguir um encontro particular entre Kriss e Nicoletta. Eu não duvidava que ele tentaria me fazer parecer má de propósito, como na Condenação. Se conseguisse me prejudicar a valer sem parecer culpado, não sabia se teria alguma chance.
E isso não tinha nada a ver com a questão política. Mais tempo, para ele, significava mais oportunidades para me fazer passar vergonha.
— Pai, não sei ao certo se isso pode ajudar — interveio Maxon. — As italianas já conheceram todas as candidatas. Se preferem America, é porque viram algo nela que não havia nas outras. O senhor não pode fabricar isso.
O rei encarou Maxon com veneno nos olhos.
— Você está declarando sua escolha agora, então? A Seleção acabou?
Meu coração parou de bater.
— Não — Maxon respondeu, como se a ideia fosse ridícula. — Só não sei se sua sugestão é a mais acertada.
O rei Clarkson apoiou o queixo na mão, olhando ora para Maxon, ora para mim, como se nós dois fôssemos uma equação que ele não conseguia resolver.
— Ela ainda precisa provar que é digna de confiança. Enquanto isso não acontecer, você não poderá escolhê-la — o rei disse, inflexível.
— E como o senhor espera que ela faça isso? — rebateu Maxon. — Do que o senhor precisa exatamente para ficar satisfeito?
O rei ergueu a sobrancelha, aparentemente intrigado com as perguntas do filho. Após uma breve reflexão, tirou uma pequena pasta de uma gaveta.
— Mesmo se ignorarmos as consequências do seu último showzinho no Jornal Oficial, parece haver um descontentamento entre as castas ultimamente. Tenho tentado encontrar um jeito de… apaziguar as opiniões no momento. Contudo, ocorreu-me que alguém tão jovem, bela e, ouso dizer, popular como você pode se sair melhor do que eu nessa tarefa.
Depois de me passar a pasta pela mesa, ele continuou:
— As pessoas parecem ouvir seu canto. Talvez você possa cantar uma canção minha para elas.
Abri a pasta e li os documentos.
— O que é isso?
— Apenas alguns informes públicos que faremos em breve. Conhecemos, obviamente, a composição das castas nas províncias e nas comunidades dentro delas, de modo que enviaremos informes específicos para cada região. Para encorajar essas pessoas.
Confuso com a explicação do pai, Maxon me perguntou:
— O que é isso, America?
— São como… anúncios — respondi. — Anúncios para que as pessoas sejam felizes em suas castas e não mantenham contato com quem for de outra.
— Pai, o que significa isso?
O rei recostou-se em sua cadeira, relaxado.
— Nada de mais. Só quero sufocar o descontentamento. Se não fizer isso, você terá de lidar com uma rebelião quando eu lhe passar a coroa.
— Como assim?
— As castas inferiores tendem a ficar agitadas de tempos em tempos. É natural. No entanto, precisamos subjugar seu ódio rapidamente e acabar com suas ideias de assumir o poder, antes que se unam e destruam nossa grande nação.
Maxon encarou o pai, ainda sem compreender totalmente suas palavras. Se Aspen não tivesse comentado sobre os simpatizantes dos rebeldes, eu também não entenderia. O rei planejava dividir e conquistar: tornar as castas incrivelmente gratas pelo que tinham – mesmo que fossem maltratadas – e impedir que se juntassem a outras castas, já que ninguém de fora entenderia seus problemas.
— Isso é propaganda — afirmei, lembrando de uma palavra que lera em um antigo livro de história do meu pai.
— Não, não. É uma sugestão. Um reforço. Uma visão de mundo que manterá nosso país feliz — tentou me acalmar o rei.
— Feliz? Então o senhor quer que eu diga a um Sete que… — Procurei as palavras na folha. — “Sua tarefa talvez seja a mais importante de nossa nação. Você trabalha duro para erguer os edifícios e estradas que formam nossa terra.”
Continuei:
— “Nenhum Dois ou Três poderia igualar seu talento, então não olhe para eles na rua. Não é preciso se dirigir àqueles que podem até ser superiores na ordem das castas, mas são inferiores na contribuição que dão a nosso país.”
Maxon se voltou para o pai.
— Com certeza isso vai alienar as pessoas.
— Pelo contrário. Vai mantê-las em seus devidos lugares e fazê-las perceber que o palácio sempre age incondicionalmente a seu favor.
— Age mesmo? — disparei.
— Claro que sim! — o rei berrou, fazendo-me recuar alguns passos.
— As pessoas precisam ser levadas no cabresto, com antolhos, como cavalos. Se ninguém guia seus passos, elas se perdem e vão buscar exatamente o que é pior para elas. Você pode não gostar desses discursos, mas eles farão mais, salvarão mais do que você imagina.
Meu coração só começou a desacelerar quando ele terminou de falar. Permaneci em pé, segurando os papéis.
Eu sabia que ele estava preocupado. Toda vez que o rei recebia um relatório sobre alguma coisa que tinha saído de seu controle, ele o amassava. Para ele, todas as mudanças eram consideradas traição antes mesmo de saber do que se tratava. Sua solução no momento era me colocar para fazer o mesmo que Gregory tinha feito e isolar seu povo.
— Não posso fazer isso — murmurei.
Ele respondeu calmamente:
— Então não pode se casar com meu filho.
— Pai!
O rei ergueu a mão.
— Chegamos ao limite, Maxon. Deixei você fazer tudo do seu jeito até aqui. Agora precisamos negociar. Se você quer que essa garota fique, ela precisa ser obediente. Se é incapaz de realizar as tarefas mais simples, minha única conclusão é que ela não ama você. Se esse é o caso, não entendo como você pode querer ficar com ela para começo de conversa.
Olhei para o rei com ódio por ele ter posto aquela ideia na cabeça de Maxon.
— Você o ama? Você ama Maxon, afinal?
Não era assim que eu diria aquilo. Não por causa de um ultimato, não numa negociação.
O rei balançou a cabeça.
— Que triste, Maxon. Ela precisa pensar no assunto.
Não chore. Não chore.
— Vou lhe dar um tempo para se posicionar. Se decidir que não vai fazer isso, danem-se as regras: eu a enxotarei no Natal. Que presente especial sua família irá receber. Três dias.
Ele sorriu. Coloquei a pasta sobre a mesa e saí, me esforçando para não correr. Eu não precisava de outro motivo para ele me criticar.
— America! — Maxon gritou. — Pare!
Continuei a andar até ele me agarrar pelo pulso e me forçar a parar.
— O que foi aquilo?! — indagou.
— Ele é louco!
Eu estava a ponto de chorar, mas segurei as lágrimas. Se o rei saísse e me visse daquele jeito, seria o fim.
Maxon sacudiu a cabeça.
— Não me refiro a ele, mas a você. Por que não concordou em fazer aquilo?
Olhei para ele, arrasada.
— É um truque, Maxon. Tudo o que ele faz é um truque.
— Se você tivesse concordado, eu já teria acabado com isso.
Incrédula, repliquei:
— Dois segundos antes você teve a chance de acabar com a Seleção e não o fez. Por que a culpa é minha?
— Porque — ele começou a responder, completamente desesperado — você me nega seu amor. É a única coisa que sempre quis ao longo dessa competição, e você ainda me nega. Fico esperando você dizer, mas nada. Se não conseguiu dizer na frente dele, tudo bem. Mas bastava ter concordado. Já seria o suficiente para mim.
— E por que eu faria isso se, por mais longe que a gente tenha chegado, ele ainda é capaz de me expulsar? Se sou humilhada uma vez atrás da outra enquanto você só assiste? Isso não é amor, Maxon. Você nem sabe o que é amor.
— Não sei uma ova! Você faz alguma ideia do que passei…
— Maxon, foi você quem disse que não queria mais discutir. Então pare de arrumar motivos para eu discutir com você!
Saí pisando forte. O que eu ainda estava fazendo naquele palácio? Ficava me torturando por alguém que não fazia ideia do que significava ser fiel a outra pessoa. E nunca faria, porque toda a sua noção de romance girava em torno da Seleção. Maxon nunca entenderia.
Estava quase nas escadas quando fui puxada novamente. Maxon me segurava com força, com as duas mãos em meus braços. Com certeza ele percebia como eu ainda estava furiosa, mas nos segundos que se passaram, sua atitude tinha mudado completamente.
— Eu não sou ele — disse.
— O quê? — perguntei, enquanto tentava me soltar.
— America, pare.
Suspirei desapontada e parei de me mexer. Sem alternativa, olhei nos olhos de Maxon.
— Não sou ele, está bem? — repetiu.
— Não sei o que você quer dizer.
Ele respirou fundo.
— Sei que você passou anos se dedicando a outra pessoa porque pensava que ele a amaria para sempre. Só que, quando teve que enfrentar algumas dificuldades da vida, ele te abandonou.
Fiquei paralisada, absorvendo aquelas palavras. Maxon prosseguiu:
— Não sou ele, America. Não pretendo desistir de você.
Balancei a cabeça.
— Você não percebe, Maxon. Ele pode ter me decepcionado, mas pelo menos eu o conhecia. Depois de todo esse tempo, ainda sinto que há um abismo entre nós. A Seleção o obrigou a entregar seu afeto em pedaços. Nunca terei você por completo. Nenhuma de nós terá.
Novamente, me esforcei para escapar de suas mãos, mas dessa vez ele não tentou me segurar.

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