segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Epílogo - A Escolha

Sem sucesso, tento parar de tremer. Qualquer garota faria o mesmo. O dia é grandioso, o vestido é pesado e há milhares de olhos atentos. Corajosa que deveria ser, tremo.
Sei que assim que as portas se abrirem, verei Maxon à minha espera. Por isso, enquanto as pessoas ao meu redor correm para ajustar os últimos detalhes, me apego a essa expectativa e tento relaxar.
— Ah, é a nossa deixa — minha mãe diz ao notar a mudança de música.
Silvia faz um gesto para que minha família se aproxime. James e Kenna estão prontos para ir. Gerad corre para lá e para cá, amarrotando seu terno. May tenta fazê-lo ficar quieto por dois segundos na fila. Mesmo que ele fique um pouco desalinhado, todos estão com um ar de nobreza surpreendente hoje.
Apesar de estar feliz com a presença de todos que me amam, não consigo deixar de sentir a ausência de meu pai. Mas sei que ele está comigo, sussurrando como me ama, como está orgulhoso de mim, como estou linda. Eu o conhecia tão bem que sou capaz de imaginar as palavras exatas que ele me diria hoje. Espero que continue assim, que ele nunca vá embora de vez.
Estou tão perdida sonhando acordada que nem noto a chegada de May.
— Você está linda, Ames — ela diz, com o braço estendido para tocar a intrincada gola alta do meu vestido.
— Mary se superou, não é? — respondi, tocando algumas partes do vestido também.
Mary é a única das minhas criadas originais que ainda está comigo. Quando a poeira baixou depois do ataque, descobrimos que tínhamos perdido muito mais vidas do que imagináramos no começo. Enquanto Lucy sobreviveu e resolveu se aposentar, Anne não resistiu.
Outro lugar que não deveria estar vazio.
— Nossa, você está tremendo.
Rindo do meu nervosismo, May segura as minhas mãos e tenta acalmá-las.
— Eu sei. Não consigo evitar.
— Marlee — May chama. — Me ajude a acalmar America.
Minha única e exclusiva madrinha se aproxima com os olhos mais brilhantes do que nunca. Com as duas ao meu lado, fico um pouco menos tensa.
— Não se preocupe, America. Tenho certeza de que ele vai aparecer — ela brinca.
May cai na risada, enquanto eu dou tapinhas nas duas.
— Minha preocupação não é que ele mude de ideia! Tenho medo de tropeçar ou errar o nome dele, algo assim. Tenho talento para estragar as coisas.
Marlee encosta sua testa na minha.
— Nada pode estragar o dia de hoje.
— May! — minha mãe chama entredentes.
— O.k., a mamãe está surtando. Vejo você lá em cima — ela manda um beijo de longe para não deixar marcas de batom na minha bochecha.
A música começa a tocar e eles entram juntos no corredor que me espera.
Marlee recua.
— Sou a próxima?
— Sim. Aliás, adorei essa cor em você.
Ela faz uma pose.
— Adoro seu bom gosto, Vossa Majestade.
Respirei fundo.
— Ninguém tinha me chamado assim ainda. E, meu Deus, agora esse vai ser meu nome para quase todo mundo.
Tento repassar as falas rapidamente. A coroação faz parte do casamento. Primeiro, os votos para Maxon; depois, para Illéa. Alianças, depois coroas.
— Não comece a ficar nervosa de novo! — ela insiste.
— Estou tentando! Quer dizer, eu já sabia que seria assim. É muita coisa para um dia só.
— Rá! — exclama Marlee enquanto mudam a música. — Espere até a noite.
— Marlee!
Antes que eu possa lhe dar uma bronca, ela sai aos pulinhos, não sem antes piscar para mim. Tive que rir daquilo. Estou tão feliz por tê-la novamente em minha vida. Fiz dela oficialmente uma das minhas assistentes, e Maxon fez o mesmo com Carter. Era um claro sinal ao público do que seria o reinado de Maxon, e fiquei feliz ao ver quanta gente aprovou a mudança.
Fico na escuta, esperando. Sei que logo a música vai começar, então aproveito o tempo para ajeitar o vestido pela última vez.
Ele é realmente magnífico. A saia branca se ajusta aos meus quadris e desce em ondas até o chão. As mangas rendadas são curtas e sobem junto à gola alta que me faz parecer uma princesa de verdade. Um véu esvoaçante tremula atrás de mim, fazendo o papel de cauda.
Vou tirá-lo na festa, quando pretendo dançar com meu marido até não aguentar mais.
— Pronta, Meri?
Olho para Aspen.
— Sim, estou pronta.
Enlaçamos os braços.
— Você está incrível.
— Você também não está nada mal — comento, mas, apesar do meu sorriso, ele percebe que estou nervosa.
— Não há com que se preocupar — garante Aspen, com um sorriso confiante que me faz acreditar em tudo que ele diz.
O mesmo de sempre.
Respiro fundo e faço um sinal com a cabeça.
— Certo. Só não me deixe cair, o.k.?
— Não se preocupe. Se perder o equilíbrio, pode pegar isso aqui — ele diz, mostrando a bengala azul-escura feita especialmente para combinar com seu uniforme de gala. Ri só de pensar na cena.
— Lá vamos nós — ele diz, feliz por me fazer rir de verdade.
— Majestade? Chegou a hora — Silvia avisa, com um quê de admiração na voz.
Confirmo com a cabeça, e Aspen e eu caminhamos em direção às portas.
— Acabe com eles — ele diz um pouco antes de o volume da música aumentar e as portas serem abertas.
O medo volta com força total. Apesar de termos tentado deixar a lista pequena, centenas de pessoas lotam o corredor que me leva até Maxon. Nem consigo vê-lo, pois todos se levantam para me ver passar. Só preciso ver seu rosto. Se conseguir encontrar aqueles olhos firmes, sei que sou capaz de passar por isso.
Tentando manter a calma, sorrio e aceno graciosamente com a cabeça aos convidados para agradecer por sua presença. Mas Aspen sabe.
— Está tudo bem, Meri.
Olho para ele, e a motivação em seu rosto me ajuda.
Avanço.
Não é a mais graciosa das caminhadas até o altar, nem a mais rápida. Com a perna de Aspen tão machucada, precisamos nos arrastar até lá. Mas a quem mais eu poderia ter pedido para entrar comigo? A quem mais eu teria pedido? Aspen passara a ocupar um lugar desesperadamente vago em minha vida. Não de namorado nem de amigo, mas de família.
Tive medo de que ele ficasse ofendido e dissesse não. Mas respondeu que seria uma honra e me abraçou quando pedi.
Leal e sincero, até o fim. Esse era o meu Aspen.
Enfim, vejo um rosto familiar na multidão. Lucy está lá, com seu pai. Está radiante de orgulho por mim, embora seja incapaz de desgrudar os olhos de Aspen. Ele estufa um pouco mais o peito quando passamos diante dela. Sei que logo será sua vez, e aguardo ansiosamente. Aspen não poderia ter feito escolha melhor.
Ao lado dela estão as outras Selecionadas, preenchendo as filas próximas. Foi corajoso da parte delas voltar por minha causa, considerando que nem todas que deveriam estar ali estão de fato. Ainda assim, elas sorriem, mesmo Kriss, embora eu pudesse ver tristeza em seu olhar. Fico impressionada com o quanto desejo que Celeste estivesse aqui. Posso imaginá-la fazendo uma careta e depois piscando, ou algo do tipo. Talvez fizesse uma piadinha meio arrogante, mas não muito. Eu sinto muita, muita saudade dela.
Também sinto falta da rainha Amberly. Só posso imaginar como ela estaria feliz hoje, ao conseguir finalmente uma filha. Sinto que me casar com Maxon me dá o direito de amá-la assim, como mãe. Com certeza, sempre amarei.
E então vejo minha mãe e May. Elas se abraçam com tanta força que parecem estar apoiadas uma na outra. Tantos sorrisos ao redor delas. Tenho a sensação inexplicavelmente boa de ser muito amada.
Estou tão distraída com seus rostos que nem noto que já estou muito perto do fim do corredor. Ao olhar para a frente... lá está ele.
E então parece não haver mais ninguém além de nós dois.
Nada de câmeras, nada de flashes. Apenas nós. Apenas Maxon e eu.
Ele usa sua coroa e o terno com a faixa azul e as medalhas. O que eu disse na primeira vez em que o vi vestido assim? Algo sobre andar por aí com um lustre no pescoço, acho. Sorrio ao lembrar a longa jornada que nos trouxe até o altar.
Os últimos passos de Aspen são lentos, mas firmes. Quando chegamos ao nosso destino, me viro para ele. Aspen abre um último sorriso, e eu me aproximo para beijá-lo na bochecha. Trocamos um olhar por alguns instantes. Por fim, ele toma minha mão e a põe sobre a de Maxon, me entregando a ele.
Ambos fazem um sinal afirmativo com a cabeça. Não há nada além de respeito entre eles. Acho que jamais entenderei o que se passou entre os dois, mas tudo parecia estar em paz naquele momento. Aspen dá um passo para trás e eu, um para a frente, chegando ao lugar onde jamais pensei que estaria.
Maxon e eu caminhamos bem próximos. Começa a cerimônia.
— Olá, minha querida — ele sussurra.
— Nem comece — retruco, e nós dois sorrimos.
Ele segura minhas mãos como se fossem a única coisa que o mantinha em pé. Olho fixamente para essa cena enquanto me preparo para as palavras que estão por vir, para as promessas que jamais quebrarei. É realmente mágico o poder deste dia.
Mas, mesmo agora, sei que não se trata de um conto de fadas. Sei que teremos tempos difíceis, confusos. Sei que as coisas nem sempre acontecerão como desejamos e que precisaremos nos esforçar para nunca esquecer os motivos de nossa escolha.
Não será perfeito, não o tempo todo.
Isto não é um “felizes para sempre”.
É muito mais que isso.

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