sexta-feira, 15 de agosto de 2014

89 Dias Antes - Quem é você, Alasca?

"ARRANJAMOS UMA NAMORADA PARA VOCÊ", Alasca me disse. No entanto, ninguém tinha me explicado o que acontecera no Júri na semana anterior. Não que o castigo tivesse afetado Alasca, que estava (1) no nosso quarto, e porta fechada, depois de escurecer e (2) fumando um cigarro no sofá quase todo de espuma. Ela enfiou uma toalha debaixo da porta e teimou que era seguro, mas eu estava preocupado - com o cigarro e com a "namorada". "Tudo o que eu tenho a fazer agora", ela disse, "é convencer você a gostar da menina e convencer a menina a gostar de você." "Tarefas monumentais", o Coronel salientou. Estava deitado no beliche de cima, lendo Moby Dick para a aula de Inglês. "Como consegue ler e conversar ao mesmo tempo?", perguntei.
"Bem em geral, não consigo, mas nem o romance nem a conversa são intelectualmente desafiadores." "Eu gosto desse livro", Alasca disse. "Claro." O Coronel sorriu e se debruçou para encarar Alasca do alto do beliche. "É claro que gosta. A grande baleia branca é uma metáfora para tudo. E você adora metáforas pretensiosas. Alasca não se perturbou. "Então, Gordo, o que você acha da ex-União Soviética? "Hmm... Sou a favor?" Ela bateu as cinzas do cigarro dentro do meu porta-lápis. Eu quase protestei, mas do que ia adiantar? "Sabe aquela menina da aula de Pré- Cálculo", Alasca perguntou, "que tem uma voz suave e diz 'quéém' em vez de 'quem'? Sabe quem é?" "Sei. A Lara. Ela sentou no meu colo a caminho do McDonald's." "Isso. Eu lembro. Ela gostou. Você pensou que ela estivesse conversando discretamente sobre Pré Cálculo, quando, na verdade, estava falando sobre fazer sexo com você. É por isso que precisa de mim." "Ela tem peitos lindos", o Coronel disse, sem tirar os olhos da baleia. "NÃO OBJETIFIQUE O CORPO DA MULHER!", Alasca gritou. Então ele olhou por sobre o livro. "Desculpa. Peitos firmes.'' "Dá no mesmo!" "Claro que não!", ele disse. "Lindo é uma opinião sobre o corpo de uma mulher. Firme é apenas uma observação. Eles são firmes. Meu Deus!" "Você não toma jeito", ela disse. "Mas então ela achou você bonitinho, Gordo." "Legal." "Não quer dizer anda. O problema é que, se você for falar com ela, vai começar com seus 'hmm...', e vai ser um desastre." "Não seja tão dura com ele", o Coronel a interrompeu, como se fosse minha mãe. "Santo Deus, eu já entendi a anatomia das baleias. Podemos mudar de assunto, Sr. Melville?"
"O Jake vem para Birmingham neste fim de semana, e nós vamos sair num encontro triplo. Bem, triplo e meio, porque o Takumi também vai. Não haverá pressão. E você não terá como estragar tudo porque estarei lá o tempo todo." "Tudo bem."
"Eu vou com quem?'', o Coronel perguntou.
"Com sua namorada." "Certo", ele disse, depois acrescentou, sério, "mas nós não nos damos muito bem." "Sexta-feira está bom? Ou vocês têm algum programa?" E eu ri, porque o Coronel e eu não tínhamos programa nem para aquela sexta-feira nem para nenhuma outra sexta-feira pelo resto de nossas vidas. "Foi o que eu pensei." Ela sorriu. "Agora temos de lavar louça no refeitório, Chipper. Santo Deus, os sacrifícios que eu faço!"

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