Nunca imaginei que fosse possível ficar enjoado de comer barrinhas de cereal. Mas é. Dou apenas duas mordidas na quarta barrinha do dia e meu estômago já está revirando. Abro o console central e jogo a barrinha de volta lá dentro. Nós nos referimos a esta parte da cozinha como despensa.
— Ah, como eu queria que a gente tivesse umas maçãs — diz Radar. — Deus, como seria gostoso comer uma maçã agora!
Suspiro. Bosta de último grupo alimentar. Para completar, embora eu tenha parado de beber Bluefin há algumas horas, ainda estou cheio de tremeliques.
— Ainda estou com uns tremeliques — digo.
— É — concorda Radar. — Não consigo parar de mexer os dedos. — Olho para baixo. Ele está batucando os dedos nos joelhos silenciosamente. — Estou falando sério. Não consigo mesmo parar.
— Certo, eu ainda não estou cansado, então a gente fica acordado até umas quatro da manhã, depois acorda os dois e dorme até as oito.
— Beleza — diz ele.
Ficamos em silêncio. A estrada está vazia agora; só eu e uns caminhões, e parece que meu cérebro está processando informações onze mil vezes mais rápido do que o normal, e então me dou conta de que o que estou fazendo é muito fácil, de que viajar em uma rodovia interestadual é a coisa mais simples e agradável do mundo: tudo que preciso fazer é me manter no meio da faixa e ter certeza de que ninguém chegue perto demais, ou que eu não chegue perto demais de ninguém, e continuar seguindo.
Talvez Margo também tenha passado por isto, mas eu nunca teria me sentido assim se estivesse sozinho. Até que Radar quebra o silêncio:
— Bem, se a gente não vai dormir até as quatro…
— É, a gente devia abrir outra garrafa de Bluefin — termino a frase por ele. E é o que a gente faz.
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