Ben voltou para o banco do carona. Ainda estou dirigindo. Estamos todos com fome. Lacey distribui um chiclete para cada um, o que não dá nem para o começo. Ela está fazendo uma lista gigantesca com tudo que vamos comprar no BP em nossa primeira parada. É melhor que seja um posto muito bem abastecido, pois vamos fazer a limpa.
Ben está balançando as pernas sem parar.
— Dá para parar com isso?
— Já faz três horas que estou com vontade de ir ao banheiro.
— Você já falou isso.
— Dá para sentir o xixi chegando até as minhas costelas — diz ele. — Estou literalmente cheio de xixi. Cara, neste instante, setenta por cento do meu corpo é feito de xixi.
— Ahã — respondo, mal abrindo um sorriso.
É engraçado e tal, mas estou cansado.
— Eu estou prestes a chorar, e vou chorar xixi.
Dessa vez funciona. Rio um pouco. Quando olho para Ben de novo alguns minutos depois, ele está com uma das mãos na virilha, apertando a beca com força.
— Que diabos…? — pergunto.
— Cara, eu preciso mijar. Estou tentando me segurar aqui. — E então ele se vira para trás: — Radar, quanto mais até o posto?
— Ainda faltam uns duzentos e trinta quilômetros para conseguirmos manter o máximo de quatro paradas, o que significa mais ou menos uma hora, cinquenta e oito minutos e trinta segundos, se Q mantiver a velocidade.
— Estou mantendo a velocidade! — grito.
Já estamos ao norte de Jacksonville, nos aproximando da Geórgia.
— Não vai rolar, Radar. Ache alguma coisa em que eu possa mijar.
E todo mundo grita junto: NÃO. De jeito nenhum. Segura a onda aí, como um homem. Como uma dama vitoriana protege seu hímen. Com dignidade e graça, como o presidente dos Estados Unidos deve zelar pelo futuro do mundo livre.
— ALGUÉM ME DÊ ALGUMA COISA OU VOU MIJAR NESTE BANCO. RÁPIDO!
— Ai, caramba — diz Radar, soltando o cinto de segurança. Ele pula para a parte de trás e abre o isopor no porta-malas. Então volta para o banco, se inclina para a frente e passa uma cerveja para Ben. — Graças a Deus essa não precisa de abridor — diz Ben, usando a beca para ajudar a abrir a garrafa.
Ele baixa o vidro e, pelo retrovisor do carona, eu vejo a cerveja sendo derramada na pista. Ben dá um jeito de colocar a garrafa debaixo da beca sem expor as supostamente maiores bolas do mundo, e nós ficamos aqui, sentados, aguardando, com nojo demais para olhar.
— Não dá mesmo para segurar? — estava dizendo Lacey quando ouvimos o barulhinho.
Trata-se de um som que eu nunca tinha ouvido, mas reconheço do mesmo jeito: o barulho de xixi batendo no fundo de uma garrafa. É quase musical. Uma música repugnante e muito agitada. Olho para o lado e vejo o alívio nos olhos de Ben. Ele está sorrindo, olhando para o horizonte.
— Quanto mais você espera, melhor é a sensação — diz ele.
O som muda logo em seguida de xixi batendo na garrafa para gotejar de xixi em cima de xixi. E, lentamente, o sorriso no rosto de Ben desaparece.
— Cara, acho que vou precisar de outra garrafa — diz ele, de repente.
— Outra garrafa, RÁPIDO — grito.
— Outra garrafa chegando!
Em um segundo vejo Radar se debruçando sobre o banco traseiro, a cabeça enfiada no isopor, tirando outra garrafa do gelo. Ele a abre sem usar a beca, baixa um pouco o vidro e joga a cerveja pela janela. Então se inclina para a frente, coloca a cabeça no vão entre os bancos e estende a garrafa para Ben, que está olhando ao redor, em pânico.
— Hum… a troca vai ser um tanto complicada — diz ele.
Desajeitado, ele se atrapalha um pouco, as mãos debaixo da beca, e eu fico tentando não imaginar o que está acontecendo quando surge uma garrafa de Miller Lite cheia de xixi (e que surpreendentemente se parece muito com Miller Lite).
Ben coloca a garrafa cheia no porta-copos do carro, pega a garrafa vazia das mãos de Radar e suspira de alívio. Enquanto isso, o restante de nós fica a contemplar o xixi no porta-copos. A estrada não é particularmente acidentada, mas o carro deixa a desejar em estabilidade, então o xixi balança dentro da garrafa.
— Ben, se você sujar meu carro novinho, eu vou cortar suas bolas.
Ainda mijando, Ben se vira para mim com um meio sorriso no rosto:
— Cara, você vai precisar de uma faca e tanto.
E então finalmente ouço o barulho do fluxo diminuir. Ele termina e em um movimento rápido joga a segunda garrafa pela janela. A primeira vai logo depois. Lacey finge que está com ânsia de vômito — ou talvez esteja mesmo.
— Você acordou hoje de manhã e bebeu setenta litros d’água? — pergunta Radar.
Mas Ben está radiante. Erguendo os punhos no ar, triunfante, e gritando:
— Nem uma gotinha no banco! Meu nome é Ben Starling. Primeiro clarinete na banda da WPHS. Recordista de keg stand. Campeão mundial de mijada no carro. Eu deixo todo mundo boladão! Eu sou o maioral!
Trinta e cinco minutos depois, quando estamos quase totalizando três horas de viagem, Ben pergunta baixinho:
— Quando é mesmo que a gente vai parar?
— Daqui a uma hora e três minutos, se Q mantiver a velocidade — responde Radar.
— Beleza — diz Ben. — Porque eu preciso ir ao banheiro.
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