Certo, talvez não tenhamos tantos suprimentos assim. Na correria, Ben e eu cometemos alguns (embora não fatais) errinhos. Com Radar sozinho no banco da frente, Ben e eu nos sentamos atrás dele e começamos a desempacotar, passando todos os itens para Lacey na parte de trás do carro. Lacey, por sua vez, organiza as compras em pilhas seguindo uma lógica que só ela é capaz de entender.
— Por que os remédios para gripe não estão junto com os analgésicos? — pergunto. — Os remédios não deveriam ficar todos juntos?
— Q, meu amor, você é menino. Não sabe fazer essas coisas. O analgésico fica junto com os chocolates e o Mountain Dew porque todos eles contêm cafeína e ajudam a nos manter acordados. O remédio para gripe fica com as tirinhas de carne-seca porque dá tanto sono quanto comer carne.
— Impressionante — digo.
Depois que entrego a Lacey o último pacote de minha sacola, ela pergunta:
— Q, cadê as comidas… hum… saudáveis?
— O quê?
Lacey pega uma cópia da lista que ela escreveu para mim e lê em voz alta:
— Banana. Maçã. Frutas secas. Uva-passa.
— Ah — digo. — É verdade. O último grupo alimentar não era biscoito.
— Q! — diz ela, furiosa. — Eu não posso comer nada disso!
Ben coloca a mão no ombro dela.
— Mas você pode comer os cookies. Eles não fazem mal. São caseiros.
Lacey bufa, tirando uma mecha de cabelo do rosto. Parece realmente irritada.
— E tem as barrinhas de cereal — digo a ela. — São ricas em vitaminas.
— É, vitaminas e trinta gramas de gordura pura — responde ela.
— Ei, nada de falar mal das barrinhas de cereal — diz Radar lá da frente. — Você quer que eu pare o carro?
— Sempre que como uma barrinha de cereal — diz Ben —, eu penso: “Então esse é o gosto do sangue para os mosquitos.”
Abro uma barrinha sabor brownie até a metade e a seguro diante do rosto de Lacey.
— Sinta só o cheiro — digo. — Sinta o cheiro delicioso das vitaminas.
— Eu vou ficar gorda.
— E espinhenta — acrescenta Ben. — Não se esqueça das espinhas.
Lacey tira a barrinha da minha mão e, relutante, dá uma mordida. Ela precisa fechar os olhos para esconder o prazer orgástico inerente ao se saborear uma barrinha de cereal sabor brownie.
— Ai. Meu. Deus. Tem gosto de esperança.
Enfim, desempacotamos a última sacola. Ela contém duas camisetas grandes, com as quais Radar e Ben parecem muito animados porque significa que eles podem virar garotos que usam camisetas enormes por cima de becas ridículas, em vez de só garotos que usam becas ridículas. Mas, quando Ben desdobra as camisetas, percebemos dois pequenos problemas. Primeiro, aparentemente, uma camiseta grande em uma loja de conveniência da Geórgia não é do mesmo tamanho que uma camiseta grande da Old Navy, por exemplo. A camiseta do posto é gigante — está mais para um saco de lixo do que para uma camiseta. É menor do que as becas, mas não muito. Mas isso não é nada comparado ao segundo problema: ambas estão estampadas com bandeiras enormes da Confederação norte-americana. E sobre elas o lema herança, não ódio.
— Ah, não. Você não fez isso — diz Radar quando mostro a ele do que estamos rindo. — Ben Starling, é melhor você não ter comprado para mim, seu amigo negro, uma camiseta com um lema racista.
— Eu peguei as primeiras que vi, cara.
— Não venha com “cara” para cima de mim agora — diz Radar, mas ele está sacudindo a cabeça e rindo.
Entrego a camiseta a ele, que se contorce para dirigir com os joelhos enquanto a veste.
— Tomara que um guarda me pare. Queria muito ver a reação dele ao ver um negro usando uma camiseta da Confederação sobre um vestido preto.
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