ENTREI NO SALÃO DAS MULHERES COM O PLANO DE MAXON NA CABEÇA. A rainha ainda não havia chegado e todas as meninas riam juntas perto da janela.
— America, venha aqui! — chamou Kriss, como se fosse urgente.
Até Celeste se virou para mim com um sorriso e um gesto para que me aproximasse.
Desconfiei um pouco do que me esperava, mas me juntei ao grupo mesmo assim.
— Meu Deus! — exclamei.
— Pois é — suspirou Celeste.
Lá estava metade dos guardas do palácio, sem camisa, correndo em volta do jardim. Aspen tinha me contado que todos os guardas tomavam uma injeção para ficarem fortes, mas aparentemente eles também faziam um monte de exercícios para manter o corpo em forma.
Apesar de sermos todas leais a Maxon, não dava para ignorar tantos garotos lindos.
— O loiro… — Kriss comentou. — Bom, acho que é loiro. O cabelo está tão curto!
— Eu gosto deste aqui — cochichou Elise quando outro soldado passou pela janela.
Kriss segurou o riso.
— Não acredito que estamos fazendo isso!
— Ali, ali! Aquele cara de olhos verdes — disse Celeste, apontando para Aspen.
Kriss deixou escapar um suspiro.
— Dancei com ele no Halloween. Além de bonito, é divertido.
— Também dancei com ele — gabou-se Celeste. — O guarda mais lindo do palácio, fácil.
Tive que dar uma risadinha. Imaginei como ela se sentiria se soubesse que Aspen tinha sido um Seis antes de se tornar guarda.
Enquanto o observava correr, pensei nas centenas de vezes em que fora envolvida por aqueles braços. A distância cada vez maior entre nós parecia inevitável, mas mesmo assim me perguntava se havia uma maneira de preservar uma parte do que vivemos. E se eu precisasse dele?
— E você, America? — Kriss perguntou.
Aspen era o único que me atraía e, depois de sofrer tanto por ele, parecia idiota escolher alguém. Achei melhor me esquivar da pergunta.
— Não sei. São todos bonitinhos.
— Bonitinhos? — repetiu Celeste. — Você está de brincadeira! Estão entre os caras mais lindos que já vi.
— São só uns caras sem camisa — repliquei.
— Então aproveite a vista porque daqui a pouco só vai poder olhar para nós três aqui dentro — Celeste disse em tom grosseiro.
— Sei lá. Maxon fica tão bem sem camisa quanto qualquer um desses caras.
— O quê? — bravejou Kriss.
Só percebi o que tinha dito um segundo depois de as palavras escaparem da minha boca. As três olhavam fixamente para mim.
— Quando exatamente você e Maxon ficaram sem camisa? — Celeste quis saber.
— Eu não fiquei!
— Mas ele ficou? — Kriss perguntou. — Foi por isso que você usou aquele vestido péssimo ontem à noite?
Celeste estava em choque:
— Sua vadia!
— Como é? — gritei.
— Bom, o que você esperava? — ela emendou, cruzando os braços. — A não ser que você queira nos contar o que aconteceu e provar que estamos erradas.
O problema é que não havia como explicar o assunto. Despir Maxon não tinha sido exatamente um momento romântico, mas eu não podia contar que tinha cuidado de feridas nas costas dele causadas justamente por seu pai. Maxon guardaria esse segredo a vida inteira. Se o traísse agora, seria o fim da nossa relação.
— Celeste estava seminua com ele nos corredores! — acusei, com o dedo apontado para ela.
O queixo dela caiu.
— Como você sabe?
— Quer dizer que todo mundo já ficou sem roupa com Maxon? — Elise perguntou, horrorizada.
— Não ficamos sem roupa! — gritei.
— Chega — disse Kriss, levantando os braços. — Precisamos tirar isso a limpo. Quem fez o que com Maxon?
Todas se calaram por alguns instantes. Ninguém queria ser a primeira a falar.
— Eu o beijei — revelou Elise. — Três vezes e só.
— Eu nunca o beijei — confessou Kriss. — Mas foi escolha minha. Ele me beijaria se eu deixasse.
— Sério? Nenhuma vez? — perguntou Celeste, chocada.
— Nenhuma.
— Bom, eu o beijei várias vezes — Celeste falou, jogando o cabelo para trás, orgulhosa em vez de envergonhada. — A melhor foi naquela noite no corredor.
E, com os olhos em mim, completou:
— Ficamos cochichando sobre como era emocionante saber que podíamos ser pegos no flagra.
Então todas se viraram para mim. Lembrei das palavras do rei, quando insinuou que talvez outras garotas estivessem dispostas a ser mais atiradas do que eu. Mas eu sabia que essa era apenas mais uma de suas armas, uma tentativa de me fazer sentir insignificante. Decidi ser honesta.
— O primeiro beijo de Maxon foi comigo, não com Olivia. Eu não queria que ninguém soubesse. E depois houve outros… momentos mais íntimos. Em um deles, Maxon ficou sem camisa.
— Ficou sem camisa? Assim, num passe de mágica, ela saiu? — pressionou Celeste.
— Ele tirou — admiti.
Ainda não satisfeita, Celeste continuou a forçar a barra.
— Ele tirou ou você tirou?
— Acho que os dois.
Depois de alguns instantes tensos, Kriss retomou a palavra:
— Muito bem, agora sabemos a posição de cada uma.
— E qual é? — Elise perguntou.
Ninguém respondeu.
— Só queria dizer… — comecei — que todos esses momentos foram muito importantes para mim, e que realmente me importo com Maxon.
— Você quer dizer que a gente não se importa? — vociferou Celeste.
— Sei que você não se importa.
— Como ousa?!
— Celeste, todo mundo sabe que você quer alguém com poder. Até apostaria que você gosta um pouco dele, mas não é apaixonada. Você quer a coroa.
Sem negar, ela se voltou para Elise.
— E essa aqui? Nunca vi qualquer traço de emoção em você!
— Sou reservada. Você devia tentar de vez em quando — Elise rebateu no ato. Aquela faísca de raiva me fez gostar dela um pouco mais. — Na minha família, todos os casamentos são arranjados. Eu sabia que comigo também seria assim. Posso não estar completamente apaixonada, mas respeito Maxon. O amor pode vir depois.
Kriss falou, em tom amigável:
— Isso parece meio triste, Elise.
— Não é. Há coisas maiores do que o amor.
Todas encaramos Elise, digerindo suas palavras. Eu tinha lutado pela minha família em nome do amor e, também em nome do amor, tinha feito o mesmo por Aspen. E agora, apesar de a simples ideia me assustar, estava certa de que todas as minhas ações em relação a Maxon – mesmo as mais bobas – também eram motivadas por esse sentimento. E se houvesse algo mais importante?
— Bom, eu admito: amo Maxon — Kriss desabafou. — Amo e quero que se case comigo.
De volta à discussão, minha vontade era de derreter pelo carpete. O que eu tinha começado?
— Muito bem, America, desembuche — exigiu Celeste.
Gelei e comecei a respirar com dificuldade. Demorei um pouco para encontrar as palavras certas.
— Maxon sabe o que eu sinto, e é isso o que importa.
Ela fez uma cara de decepção, mas não me pressionou mais. Sem dúvida estava com medo de que eu fizesse o mesmo com ela.
Permanecemos lá, nos entreolhando. A Seleção já durava meses, e agora finalmente podíamos enxergar os verdadeiros objetivos de cada uma na competição. Agora todas sabíamos qual era a relação das concorrentes com Maxon – pelo menos em parte – e era possível compará-las.
A rainha chegou momentos depois e nos desejou bom-dia. Depois de cumprimentá-la com uma reverência, nos afastamos. Para os cantos do salão, para dentro de nós mesmas. Talvez tudo se resumisse a isso mesmo. Havia um príncipe e quatro garotas, três das quais voltariam para casa com pouco mais que uma história interessante sobre como passaram o outono.
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