sexta-feira, 1 de agosto de 2014

15° Capitulo (3p) - Cidades de Papel

Uma fileira estreita de carvalhos esconde os milharais que se estendem até o horizonte. A paisagem muda, mas só ela. Grandes rodovias como esta transformam os Estados Unidos em um único lugar: McDonald’s, postos BP, Wendy’s. Eu sei que deveria odiar rodovias por isso e ansiar pelos dias despreocupados de outrora, quando se é invadido pelos matizes locais a cada curva — mas tanto faz. Gosto disso. Gosto de estabilidade. Gosto do fato de poder dirigir por quinze horas sem que o mundo mude tanto assim.
Lacey me coloca no último banco, com dois cintos de segurança.
— Você precisa descansar — diz ela. — Já passou por muita coisa hoje.
Impressionante como até agora ninguém me culpou por não ter sido mais proativo na batalha contra a vaca.
Eu começo a adormecer ouvindo-os rir uns dos outros — não chego a escutar as palavras exatas, mas sinto o ritmo, os altos e baixos da conversa. Gosto de ficar apenas escutando, vadiando na relva. Então decido que, se chegarmos lá a tempo e não a encontrarmos, é isto que vamos fazer: dirigir por Catskill e achar um lugar para me sentar e passar o tempo, vadiando na relva, conversando, contando piadas.
Talvez a certeza de que ela está viva torne tudo isso possível de novo — mesmo que eu nunca tenha a prova disso. Eu quase posso imaginar uma felicidade sem ela, a capacidade de deixá-la ir embora, de sentir que nossas raízes estão interligadas mesmo que eu nunca mais veja aquela folha de relva novamente.

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