quarta-feira, 16 de julho de 2014

23° Capitulo - A Garota da Capa Vermelha

Sentindo-se vazia, devorada de dentro para fora pela própria corrupção, Roxanne se aproximou do capitão.
— Onde está meu irmão? O padre Solomon me disse que ele seria libertado.
Ela fungava no ar frio.
Algo indiscernível perpassou pelo rosto do capitão.
— Libertado... — assentiu com a cabeça, distraidamente. — Sim, acho que ele foi libertado.
O capitão se virou e entrou de novo na taverna. Roxanne presumiu que deveria segui-lo. Então, correu atrás dele apressadamente enquanto subia a escada, três degraus de cada vez. Depois de atravessarem a taverna, desceram ao pátio dos fundos, onde o capitão caminhou até um carrinho de mão. Confusa, Roxanne olhou em volta. Não viu o irmão.
O capitão espantou alguns corvos que bicavam um volume no carrinho, que começou a empurrar na direção dela. Roxanne viu que o volume estava coberto por um cobertor. Quando o carrinho se aproximou mais, um braço caiu de baixo do cobertor e ficou pendente. Era o braço de Claude.
Abanando a cabeça, ela recuou.
O capitão parou a sua frente e descobriu o corpo. Roxanne caiu de joelhos no chão encharcado. A pele de Claude estava branca como papel, contrastando ainda mais com as sardas. Suas mãos e pés estavam queimados, cheios de bolhas; o rosto estava machucado e inchado.
Não havia ocorrido a ela que poderia não o encontrar vivo; embora tivesse descido a profundezas que jamais imaginara, algo tão horrível não lhe passara pela cabeça.
No início da semana, os assoalhos rangiam. As portas dos armários recusavam-se a fechar. As pessoas eram pobres; a comida, escassa. Havia ciúme, maldade e vaidade. As coisas não eram perfeitas. Mas eram suportáveis.
Agora, o mal se abatera sobre Daggorhorn.

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